shutter island

É impossível ficar alheio à força dramática da cena inicial de "Shutter Island": um ferry lentamente emerge de um denso nevoeiro, levando Teddy Daniels (Leonardo di Caprio) e Chuck (Mark Rufallo) em direcção aos imponentes portões de acesso do Hospital Psiquiátrico...Este é apenas o início desta obra de Martin Scorsese que, primorosamente, nos oferece drama, mistério, por vezes arrepios. Ou seja, o pretendido, mas muitas vezes não conseguido, neste género de cinema.

Em termos de narrativa, não vou entrar em detalhes. Está recheada de potencial dramático, cuja intensidade varia, arrebatando-nos numa montanha russa de emoções. Momentos de curta, mas intensa tensão, contrastam com cenas mais prolongadas, de explanação, normalmente associadas aos flashbacks/memórias. Resumidamente, estamos perante uma busca, não só por parte da personagem de Teddy, mas também do espectador, e à medida que os mistérios se vão adensando, também nós cada vez mais estamos absorvidos nessa arrepiante teia.

Destaco diversas cenas cinematograficamente fantásticas, como quando os dois detectives estão a procurar pistas sobre o misterioso desaparecimento de uma paciente, de forma a se protegerem de uma intensa tempestade, se refugiam numa cripta; a marcante cena onde Teddy abraça a sua esposa, Dolores (Michelle Williams), sobre uma chuva de cinzas, formalizando uma imagem simultaneamente bela e aterradora; o massacre em Dachau, uma cena quase surrealista, visualmente brilhante ao colocar-nos no ponto de vista dos soldados alemães; a subida das escadas em espiral, no interior do farol, metaforicamente arrasta-nos num envolvente escalar de tensão, onde todos ansiamos (tememos?) pelo clímax, a suprema revelação.

De referir também que Leonardo di Caprio, em mais uma prova do seu valor, está rodeado por um brilhante elenco. Mark Ruffalo tem um dos seus melhores desempenhos da carreira como Chuck, o calmo e intrigante colega do mais emotivo Teddy. Max von Sydow e Ben Kingsley estão perfeitos como os misteriosos médicos responsáveis pelo Hospital Psiquiátrico, quase nos lembrando de um certo Dr Frankstein e o seu castelo... Apenas Michelle Williams talvez nos pudesse ter oferecido um desempenho mais intimo, intenso, mas a "sua" Dolores não deixa de ser eficaz.

Subsiste muito mais para dizer e reflectir sobre Shutter Island, mas termino desta simples forma: uma misteriosa narrativa inserida numa sombria atmosfera, justaposta a cenários repletos de opulência e detalhes e a uma direcção excelente de Scorcese, não permitem que ninguém fique indiferente perante cinematografia desta qualidade. Imperdível.

2 comentários:

Esboços | 8 de janeiro de 2011 às 12:51

Este é sem dúvida um dos meus filmes predilectos! O comentário está fantástico. Confesso que após ter visto o filme fiquei com algumas dúvidas relativamente ao que era de facto a "realidade". Quem é afinal Teddy Daniels? Um homem ou uma ilusão? O jogo psicológico confundiu-me de facto. Afinal o homenzinho estava demente ou nao?:P No fim Teddy diz "o que será pior..morrer como um homem ou viver como um monstro?"
Gostava de saber a sua opinião :)

the only living boy | 10 de janeiro de 2011 às 23:16

Olá! Antes demais fico contente por teres gostado do que escrevi, obrigado!
Sinceramente eu inclino-me mais para a possibilidade do Teddy ser mesmo um homem insano, e o que nos é apresentado é o resultado de uma mescla da sua imaginação e do "teatro" criado pelos médicos...
Mas concordo plenamente que fica sempre no ar a possibilidade de ele não estar demente, dando razão às suas desconfianças e à ideia que estavam a tentar rotulá-lo como tal. A reforçar tal hipótese, há a concepção sugerida pelo filme de que a partir do momento que te chamam ou consideram "louco", tudo o que fazes ou dizes para contrariar essa ideia é considerado loucura...daí a imensa dúvida inerente não só ao final do filme, como a todo o seu desenrolar!

Um aparte...essa citação do shutter island faz-me muito lembrar uma frase, também final, do filme "memento", do agora muito badalado Cristopher Nolan. Não a vou dizer, pois podes não ter visto o filme e, se assim é, aconselho-te vivamente a fazê-lo!

Bjs, Eduardo

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